22 de junho de 2010

beloved

sou lisboeta de coração e insular por empurrão.

há coisa de 6 anos arrumei tralhas, e com filho a tira-colo, atravessei metado de Atlântico e vim assentar arraiais para o ilhéu. primeiro para o terceiro, e depois para o segundo.
a volta,( sim porque a menina já havia vivido 10 anos no ilhéu terceiro e assim que atingiu a maioridade deu de fuga para a capital), deu-me cabo das resistências emocionais. fez-me encarar fantasmas antigos e obrigou-me a engolir orgulho, e ego rastejante por não ter atingido os sonho que me fizeram embrenhar pelos mundos das modas e afins.

ao fim de algum tempo a insularidade cresceu em mim, e em menos de 1 ano já vivia folgada, na ronha gostosa das 9h-4.30m, com casa à beira-ribeira plantada com vista para o arvoredo. boa vida, portanto.

passados 2 anos de insularidade, eu e a minha "halface" achámos que era melhor unirmos trapos noutro ilheu perto de nós, a ver se a coisa ia.
nova muda, criança já pelos seus pés, e off we went to a ilhéu perto de nós!

nos 3 anos que já cá estou, a vida mudou. ou a vida mudou-me.

já não privo no clube dos "vintões", e sou sócia honorária do clube ao lado, o dos "trintões". as decisões são já tomadas com (alguma) consistência, e as consequências dos actos irrefletidos tem um peso equiparáveis ao efeito duma "vuvucoisa" berrada ao ouvido - doi.
assim, e porque vim agora de lisboa - ritual que pratico anualmente com intenção de me renovar ideias e beber cultura - cheguei à conclusão que a minha "casa" já não é lx, mas pdl. ou seja, casa é onde penduro o coração (mind the trocadilho), e o meu está pendurado no ilhéu.

se calhar é pelo facto de ter 35, e a noção de que vida não vai mudar muito mais e que os sonhos começam a ser outros, ou se calhar é pelo facto do meu coração ter crescido mais uns cms com as pessoas que aqui conheci, o certo é que esta semana só valeu pela reúnião de familia - que irónicamente aconteceu no Porto e não em Lisboa - e pelos beijos que dei na minha avó de 95 anos, beijos apertados de saudades do tempo que já não a via e do tempo que sei que já não vou ter muito mais com ela.

doi só um bocadinho, perder esta identidade, mas também essa dor passará.

home is where the heart is, and mine is haunted by waters.
 

2 comentários:

Memória disse...

So true...

PIRII disse...

as ilhas têm um poder cativante que, ao mesmo tempo que nos aprisionam, nos dão casa, nos dão lar.

da minha ilha, a saudade que sinto dela é sempre mais gostosa do que a vida que nela vivo. assim a amo... para toda a vida.

é também muito verdade que, a partir do momento em que se deixa a nossa terrinha-mãe, casa será sempre algo de muito subjectivo dali em diante.

na minha experiência pessoal, tenho casas em vários sítios... mas nenhum deles me lambe as feridas como a ilha/alma onde nasci, cresci... e de onde parti em busca de outras casas.