dediquei mil anos a servir outras vidas que não a minha. vivi por afectos, trabalhei por eles, mirrei pela falta.
um dia tu estiveste para morrer, e eu que sempre ali estive a teu lado, deixei tudo e fui contigo, para te acompanhar nos últimos momentos.
para isso precisei que me quisesses ali. querias-me, mas não de todo. querias-me na morte com a mesma condição que na vida, a servir-te, e não me estendeste a mão como igual.
os mil anos que te servi, e nos quais construí a dependência do afecto, não resistiram à norma hierárquica dos costumes. querias-me para te servir, não para te acompanhar como igual.
deixei de te servir quando a mão que me estendeste se fechou em dedo indicador, com uma ordem na inclinação; e quando te deixei de servir, deixei de precisar de viver.
foi em 2011 que morri. vivi mil anos por afectos, nem um foi de graça.
1 comentário:
tou numa de rir em todos os posts.
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