Porque os 90's foram a melhor década da minha vida e como as coisas mais freaks eram encaradas da maneira mais natural - in your face meninos com 198' e tal na data de nascimento!

gajas como eu, que agora rasam os 30 e tais grandes, mantém viva na memória a década de 90. Andávamos pela casa dos 20 e poucos, tínhamos sonhos, não tínhamos pudores, éramos livres e o mundo era um sitio bem melhor. Ainda acreditávamos que o mundo era grande, sonhávamos com os inter-rails pela Europa, dançávamos ao som de musica cantável, bebíamos Licor Beirão no Gingão, "pontapés na C..." no Tacão Alto, "mines" no Estádio e ainda íamos curtir rockalhada no Rockline ao fim da noite. Dormíamos pouco, vivíamos muito, construíamos carácter com as experiências sem termos paizinhos e almofadinhas anti-choque para os pontapés da vida. Em suma, éramos livres, com tudo o que isso implica.

Se escrevesse um CV das experiências da minha juventude, a coisa seria mais ou menos assim:

• Fiz reiki a um estranho deitado em cima duma cripta no Convento do Carmo;
• Passeei pelo cemitério de Earls Court, em Londres, e enquanto ia descobrindo pedras tumulares com nomes de pessoas que conheço hoje, inclusive o meu nome, fui seguida por um bando de esquilos e por um psicopata; ( I ran like mother fucking hell!)
• trabalhei na melhor equipa de bastidores dos melhores desfiles de moda em Portugal,  fui aderecista da Naija Auberman (lembram-se? a Top-Model com 1,5m de perna???) e conheci o Jean-Paul Gaultier no desfile Cosmopolis, que elogiou uma transformação que eu estava a fazer a uma t-shirt da Elle...(toma! vai buscare!)
• Lembro-me de todos os pifos e de tudo o que fiz durante os pifos...todos. ( I rather I could not...)
• Comecei a namorar com o meu gajo e 4 meses depois já vivia com ele. Até hoje...e já lá vão 14 anos.
• as minhas sextas à noite eram passadas no chão da minha sala, nas tertúlias das teorias das conspiração, acompanhadas de Jameson, tabaco... e outras ervas aromáticas. Descobrimos, à data, que foi o Bush que mandou as Twin towers abaixo. Ainda ligámos ao Clinton, mas ele estava ocupado...
• Tirei um curso de Estilismo.

• Tive 18 num trabalho de Psicossociologia da Moda, por ter feito um diário de serial-killer obedecendo ao tema "o orgasmo - la petit mort"
• Fiz yôga ( e não yoga) durante meses, e nessa altura conseguia falar sem dizer um palavrão.
• Jogava horas seguidas ao Silent Hill, com a minha gaja Pati, e depois ia leva-la a casa, a pé, às 3h da manhã.Sozinha.
• Cortava o cabelo na Facto do Bairro Alto à noite, tipo, meia-noite noite.
• Fui free-lancer como ilustradora de moda.
• Fui ao meu primeiro concerto dos Marylin Manson, na primeira edição do Zambujeira do Mar, e fiz uma viagem de 5 horas (we got lost...a little) completamente...cheia de ervas aromáticas...
• dancei até ser expulsa da tenda na última rave da XFM, a radio para uma imensa minoria. a melhor radio de Portugal, e um ícone da essência dos 90 neste país.

• (inserir aqui mais uma milhar de coisas giras a que hoje chamariam freaks) 
• Trabalhei com os Erasmus da UTL durante 3 anos.
• Tive uma gata com Esclerose Múltipla Lateral e tratei dela até ao último dia.
• A minha melhor amiga morreu aos 28 anos.

• Fiz um filho

• Mudei de vida 2 vezes pelo meu gajo.

E tudo isto foi feito sem facebooks, hi-5, telemóveis, Zon nem Meo, nem internetes nem porra nenhuma. Foi feito a frio, na hora, com 100% dos sentidos em alerta. Foi vivido e vivenciado sem que no dia seguinte os 789 "amigos" soubessem o que tinha feito na última noite, ou ultimo dia, ou ultimo segundo e só eu sabia o que ia "in my mind".

Dear youngsters,

Your life is so empty.


Sincerely,


a Balzac women