29 de outubro de 2011

s/titulo


De dedos estendidos em cima do teclado, tento achar as palavras certas para impressionar quem nunca isto irá ler, mas que em hipótese remota poderia isto chegar a uma narrativa póstuma de uma mulher só.

Talvez pela continuidade, a solidão tenha sido a amiga que há mais tempo trago comigo. Em todos os espaços vazios estava lá ela para preencher com um bocado de nada, de mais vazio, mas do barulhento, cheio e carregado dos gritos das emoções mudas, as que não apanham cor. Em todos os momentos em que me calava comigo mesma, vinha ela lampeirinha com um megafone em punho, e gritava-me ao ouvido: estás-te a ouvir? Esta que sou eu, és tu.

A puta.

Reli uma coisa que em tempos escrevi, num destes momentos que me via acompanhada por esta que era eu, onde dizia que a solidão é o espaço entre dois pingos de chuva, e mesmo esses caem aos pares. Achava-me eu iluminada pelo dom da eloquência, uma Woolf dos tempos modernos, que incompreendida pelos demais, se refugiava nas horas lentas da noite a escrever conjuntos de palavras para formarem frases, e essas frases, o barulho do meu coração. E assim me deixava ir, acompanhada pela outra que era eu, a muda, a calada, a dos espaços de dentro, iluminada pela treva visível do Pessoa.

A outra envelheceu, e com ela, eu também. Caminhámos as duas, lado a lado, ora cantando eu mais alto, ora berrando ela mais silenciosamente. Mas sempre as duas.

Antes, como agora, eu existo onde os outros não estão.



…estás-te a ouvir? Esta que sou eu, serás sempre tu.

1 comentário:

Maria disse...

always here my friend!!!

always...

i hear you...